Era uma vez um menino que vivia num casulo. Seu universo era o ventre de sua mãe. Dela ele recebia alimento, sensações, emoções...
Um dia ele descobriu que existia um mundo maior, que precisava ser descoberto, conhecido, explorado e vivido.
Logo percebeu que tinha muitas maneiras de conhecer esse mundo maravilhoso: olhos para ver, ouvidos para ouvir, nariz para sentir cheiros, boca para sentir os gostos e mãos para pegar as coisas.
No início, aquele mundo grande parecia engraçado: as coisas apareciam e desapareciam, vinham e iam. Ele acordava e dormia, chorava e sorria, sentia fome e comia, andava e caía...
Os braços da mamãe era o único lugar seguro para onde o menino sempre corria...
Depois, o menino achou que era o centro daquele mundo. Me, mim, comigo:
Com sua inteligência, o menino foi desvendando o mundo. Na relação com as pessoas e com os objetos, foi aprendendo cada vez mais.
Já andava seguro e falava muito bem. Comunicava-se com a linguagem difícil de gente grande, que a humanidade levou séculos para inventar.
O menino foi crescendo e lendo a vida, as emoções e até alguns símbolos. Com traços, rabiscos e desenhos interpretou vozes, sons, gestos e sentimentos.
Sentiu o calor e o frio, o suor e o arrepio. Sentiu a dor e o prazer, o bom e o ruim. Viu o feio e o bonito, o homem e o animal, a terra, a lua, viu o sol.
Aprendeu muito o nosso menino, mas precisava aprender ainda mais. E ele foi para escola ler as letras, as palavras... Aqueles símbolos que a humanidade levou muitos séculos para inventar.
O menino preparou sua bagagem para levar à escola. Além do lápis, caderno e borracha, levou tudo que aprendeu. Levou sua leitura de mundo, sua história, sua vida.
A bagagem era grande. Tanto que o menino quase nem podia carregar. Mas ele não deixou de levar nada e ia muito feliz.
Mas, a escola não é lugar para mostrar bagagem, nem relatar viagem. A escola já tem uma bagagem pronta e igual para todos. Por isso, o menino teve que deixar tudo o que trouxe na porta da escola.
O tempo passou e o menino não sabia o que fazer com a estranha bagagem da escola. Ainda mais que, junto com ela, tinha uma voz que dizia:
De tanto ouvir aquela voz, o menino pensou que não sabia aprender.
Ele não conseguia entender aqueles símbolos que nada diziam, e que a humanidade levou séculos para inventar, por isso, deixou de falar e ficou muito triste.
Mas, todos os dias, quando o menino saia da escola, ele pegava a sua bagagem, aquela que ele tanto conhecia.
Com ela, voltava a aprender, a falar e ler as coisas da vida. Com sua enorme bagagem, o menino continuava a desvendar o mundo; lá fora da escola, ele era novamente um menino feliz.
F I M . . .
Será essa a escola que construímos?
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